domingo, 23 de janeiro de 2011

Anestesia

Na hora em que despediu-se de mim, entendi que nunca mais tornaria a vê-la. A última imagem que ficou em minha cabeça foi a de seu sorriso afastando-se de mim, enquanto eu a olhava como quem olha para um balão perdendo-se no imenso céu. E eu, parado ali, vendo-me diante de meu destino, o cruel rumo da minha vida antes tão ingenuamente calculada.
Parecia já ter visto aquela cena antes, um deja-vu, diriam; mas não, parecia muito mais real que isso. Talvez eu já realmente tenha vivido algo parecido e meu subconsciente tenha simplesmente apagado minhas memórias nítidas do fato - anestesia.
É só isso o que nos alivia: não pensar sobre os acontecimentos, não falar sobre os acontecimentos, não recordar os acontecimentos. Deixá-los tranquilamente repousando enquanto não é necessário acordá-los. anestesia.
Se ela olhasse pra trás, se ao menos tivesse coragem de olhar para mim, tenho certeza que veria os seus olhos inundados de água. Mas não, não podia deixar que eu visse seu sofrimento, ela sempre fora forte demais para demonstrar fraqueza a uma hora destas.
E, exatamente da forma que temíamos, aconteceu: o sol se pôs e eu não mais a vi naquele dia. Nem no outro. Nem uma semana, um mês, um ano depois. Se voltará, não sei dizer. Não sei na verdade se ainda espero.

Meu coração tem apenas uma cicatriz. anestesia.

4 comentários:

Márcio Viana disse...

Thaís, escreve um texto para a Marmita Filosófica?

LAO disse...

Muito bom, Thaís. Tocante! *_*

Anônimo disse...

até me arrepiei com esse texto, Thais. Muito bom mesmo!

deia.s disse...

Booooooa noite (:
Tem um selo pro teu blog no meu blog -rs
Dá uma olhadinha depois!

:*