quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Fragmentos disso que chamamos de "minha vida"

"(...)Por trás do que acontecia, eu redescobria magias sem susto algum. E de repente me sentia protegido, você sabe como: a vida toda, esses pedacinhos desconexos, se armavam de outro jeito, fazendo sentido. Nada de mal me aconteceria, tinha certeza, enquanto estivesse dentro do campo magnético daquela outra pessoa. Os olhos da outra pessoa me olhavam e me reconheciam como outra pessoa, e suavemente faziam perguntas, investigavam terrenos: ah você não come açúcar, ah você não bebe uísque, ah você é do signo de Libra. Traçando esboços, os dois. Tateando traços difusos, vagas promessas.

(...)Era isso — aquela outra vida, inesperadamente misturada à minha, olhando a minha opaca vida com os mesmos olhos atentos com que eu a olhava: uma pequena epifania. Em seguida vieram o tempo, a distância, a poeira soprando. Mas eu trouxe de lá a memória de qualquer coisa macia que tem me alimentado nestes dias seguintes de ausência e fome. Sobretudo à noite, aos domingos. Recuperei um jeito de fumar olhando para trás das janelas, vendo o que ninguém veria.

Atrás das janelas, retomo esse momento de mel e sangue que Deus colocou tão rápido, e com tanta delicadeza, frente aos meus olhos há tanto tempo incapazes de ver: uma possibilidade de amor. Curvo a cabeça, agradecido. E se estendo a mão, no meio da poeira de dentro de mim, posso tocar também em outra coisa. Essa pequena epifania."

Caio F. Abreu

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

durma em paz

Se é real, não sei.
Pode estar em mim, pode não estar em lugar nenhum. Pode nem existir.
Preciso dizer a mim mesma que é.. e se não é, porque tanto me incomoda?
Fato que não sei, fato que nunca sei.
Enquanto mendigo sorrisos, o café me mantém acordada toda uma madrugada. Um livro, uma música. Um violão. Papel, caneta. Palavras. Lembranças.
O silêncio da cidade a dormir me traz calma, estou calma. Luzes apagadas por todos os lados, também apago a minha (ou já está apagada?); tudo foi embora neste momento, todos os pensamentos..

sábado, 11 de dezembro de 2010

Acorde-me

Depois de tanto movimento, o mundo pára.
Parece estranho no início...

Solidão grita meu nome aqui.
Um silêncio, uma calma tão desejada...
tão diferente, tão familiar, tão difícil.

Mais difícil ainda abrir os olhos pr'aquilo que eu não queria ver.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Agnóstico'

Fazer da solidão, companhia
E do tempo, alento
A angústia, consolo.

O fracasso,
Impulso.

Silêncio, dois segundos de fúria;
conformidade.

(postado originalmente no dia 27/03/10)