segunda-feira, 31 de maio de 2010

Caminho

Há algo que ilumina o escuro do quarto?
Um clarão do lado contrário, na hora inexata...
Parecia sempre haver um novo agora, onde?

Rever, reler, alma indecifrada
Coração sincero, indeciso, repetido.
Tudo o que há já se foi,
tudo o que se foi virá e ver-se-á algum dia, quem sabe..

eu sei?

domingo, 23 de maio de 2010

Ilegível

Talvez por ser de poucas palavras, eu precise de tantas.
Talvez por precisar de tantas as minhas sejam, quase sempre, insuficientes.
Talvez por isso eu, raramente, desperte atenção.
Talvez por isso eu sempre esteja procurando em mim mesma uma razão para as coisas que acontecem.
Talvez justamente por isso é que eu nunca as entenda.

domingo, 16 de maio de 2010

Clarice Lispector escreveu só pra mim

"(...) Porque eu me imaginava mais forte. Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões, é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil. É porque eu não quis o amor solene, sem compreender que a solenidade ritualiza a incompreensão e a transforma em oferenda. E é também porque sempre fui de brigar muito, meu modo é brigando. É porque eu sempre tento chegar pelo meu modo. É porque ainda não sei ceder. É porque no fundo eu quero amar o que eu amaria - e não o que é. É porque ainda não sou eu mesma, e então o castigo é amar um mundo que não é ele. É também porque eu me ofendo à toa. É porque talvez eu precise que me digam com brutalidade, pois sou muito teimosa. É porque sou muito possessiva (...) Como posso amar a grandeza do mundo se não posso amar o tamanho da minha natureza? (...) "

_em Perdoando Deus, Clarice Lispector.



Nem eu descreveria a mim mesma assim, tão exata..

quinta-feira, 13 de maio de 2010

"... agora, jogo algumas (fichas) no chão"

Perdoa minhas juras falsas, não as faço com tal intenção. Perdoa meus atos insanos, minha imensa incapacidade de ser quem eu gostaria. Perdoa.
Cada tentativa fracassada me torna ainda mais imagem x criatura. Sou o reflexo de um vampiro no espelho, ou a falta dele.

Perdão só adia um sofrimento ainda maior.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Invasão

Me perco nas palavras, não sei quais devo usar. Me vêm à cabeça e fogem de mim, gritam e me escapam. No entanto, se não as disser aqui, se não as escrever, sinto que meu coração irá explodir a cada momento.
Perdi todo meu lirismo, só o que me resta são minhas consoladoras palavras que preenchem, uma a uma, cada pedaço de um vazio. Perdi minhas rimas tolas, só o que ainda tenho é uma imensa necessidade de exprimir a complexidade de meus sentimentos. Perdi, talvez, uma sensibilidade que jamais tive; mas existe em mim um limite de emoções que contrasta com tudo o que, desde sempre, aparentei ser.
Perdoa minhas juras falsas, não as faço com tal intenção. Perdoa meus atos insanos, minha imensa incapacidade de ser quem eu gostaria. Perdoa.

Sou apenas alguém que é sem razão de ser.

sábado, 1 de maio de 2010

Destin(ando) - PARTE II

Vi a mim mesma naquelas duas meninas, e tal encontro me trouxe de volta algo que, há muito, já me fazia pensar bastante: a volatilidade de um momento. Há fases e fases na vida, e a grande maioria de nós - ou pelo menos, eu - sempre procura fazer planos friamente calculados para o futuro (e o que é o futuro senão algo que também, um dia, será hoje?), buscando não sei se um consolo para a ansiedade de se saber vivo no amanhã , talvez apenas seja da natureza humana. E, como tal, não saberíamos definir um porquê. Fato é que com o passar dos anos, verificamos que nossos sonhos nem sempre permanecem os mesmos, e, menos ainda, realizam-se. Algumas vezes somos obrigados a mudar o rumo de nossas vidas por um motivo que nem nos cabe contestar. Outras, nem sequer há um motivo concreto, e, no entanto, o tempo se encarrega de desencaminhar nossas rotas pré-traçadas.
Creio que momentos tragam consigo uma sensação de eternidade. Nosso eu é invadido por turbilhões de sentimentos, tão fortes e intensos que nos dão a impressão de que nunca irão acabar. No entanto, somos forçados a acreditar que, já dizia um velho por aí, nos acostumamos a tudo - é o que chamo de 'conformidade compulsória'.
O abraço dos dias que passam estanca todos os sofrimentos, e mostra-nos que o impossível é mera negação da desoladora efemeridade que bate à nossa porta constantemente.
..

"Ah, e dizer que isto vai acabar, que por si mesmo não pode durar. Não, ela não está se referindo ao fogo, refere-se ao que sente. O que sente nunca dura, o que sente sempre acaba, e pode nunca mais voltar. Encarniça-se então sobre o momento, come-lhe o fogo, e o fogo doce arde, arde, flameja. Então, ela que sabe que tudo vai acabar, pega a mão livre do homem, e ao prendê-la nas suas, ela doce arde, arde, flameja."
(Clarice Lispector)

Destin(ando) - PARTE I

Andava outro dia pela rua, quando vi duas meninas vestidas de um antigo sonho meu. As duas tinham seus pés calejados em sandálias, um penteado típico no cabelo. Em suas bolsas, levavam consigo a causa do ferimento de seus pés. Ironicamente, a causa de sua dor é também a maior de suas alegrias - aquela sensação enebriante de esquecer-se, por um momento, de todos os problemas que nos cercam no dia-a-dia; desligar-se, ser você para você mesma, e ao mesmo tempo, não o ser; o delírio do enaltecimento, do esforço reconhecido. Um instante de agradecimento camuflado, a dança. A arte que pulsa em seu corpo de bailarino, diálogo entre o que me vê e o que eu me vejo. Conhecer-se acima de seus limites, superá-los a cada momento.